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terça-feira, 9 de agosto de 2016

E A REALIDADE?


Uma viagem Olímpica, 2016 – Rio de Janeiro

Penso que os jogos olímpicos em toda essência e mensagens que são peculiares, nos transmitem sensações, num misto muito forte de emoções, alegrias, tristezas, frustrações e apogeu, esse último, mais relacionado ao atleta, do que propriamente a nação, pois quem desfruta da maior parte desse bolo é o merecedor dele. Aquele que se dedicou, empenhou, ralou, chorou, competiu, ganhou!

Desde a Grécia antiga (há 2.168 anos) o significado é, união dos povos, paz entre as nações que disputam os jogos, respeito às regras, e tudo, realizado milimetricamente conforme convencionado desde a sua criação. Existe um padrão, é inegável, e o que se pode perceber é que, em todas as cidades onde são realizados os jogos, o engessamento dos pauperizados é pontual.

Ontem, como a realização dos Jogos é na cidade do Rio de Janeiro, estive em uma das Arenas (Rio Centro). O que pude perceber, e o que ficou claro e evidente, é que as mídias, o governo Federal, Estadual e Municipal e a camada mais abastada da população, os donos de um País reificado, ratificam essa reificação quando produzem através dos meios de transporte a cauterização psicológica simbólica, daqueles que se deslocam para assistir um evento.

É necessário entender que essa cauterização psicológica simbólica, acontece de maneira sutil, contudo peculiar, que na sua diversidade fica invisível pelas emoções que produzem na sua execução. Ao partir para jornada esportiva, primeiro Pira do Povo, Candelária, o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), conduz até uma estação do Metrô, onde, na empolgação percebe-se as belezas do antigo bonde, numa versão mais atualizada que, esconde e deixa a margem, a história que não pode se apagar, a chacina da Candelária ocorrida em 23 de julho de 1993.

Na estação Carioca do Metrô, à sua volta, a população invisível de Rua, está ali firme, demarcando o contraste social, resultado das injustiças sociais recorrentes no país, bem ali pertinho, para quem quiser ver, porém, a direção dos jogos é para a Zona Sul, o que significa, passar correndo pelos invisíveis, pois as próximas estações subterrâneas não possibilitam contemplar tais desigualdades. 

Chegando na Estação General Osório, ali por dentro da estação mesmo, para que não haja possibilidade de perceber ou ver a nossa realidade de tantos anos, lá fora, dormindo ou com fome, o certo é, que debaixo de alguma marquise tem alguém morando. Desce a escada até chegar ao trem, já no vagão, encontramos ali, americanos, holandeses, alemães, franceses, japoneses, brasileiros e tantas outras nacionalidades, numa torre de babel metroviária memorável.

A viagem continua escondendo o nó social, que os governantes, não desatam há muitos anos, e nesse caso em especial, os problemas sociais, ”podem esperar”, pois, é só um curto período de jogos! Continua a viagem, agora do Metrô, até chegar à Estação do BRT ((Bus Rapid Transit), de maneira que o ser humano saia do VLT, entre no Metro, passe para outro trem e por fim, ali por dentro mesmo, embarque no BRT até as Arenas.

Como veremos a triste realidade do Rio, um Estado falido, se intrinsecamente através dos transportes escondemos embaixo do tapete?

A proposta aqui é essa, uma reflexão dialógica, no sentido da construção que possibilitem alternativas na consciência do devir, e que, recrudesça na ressignificação das práticas utilizadas que visem compreender o nosso papel na sociedade sem prejuízos para a população. A intencionalidade, não está em criticar os jogos, quiçá os atletas que desempenham seus papeis com maestria, visto que, estão inseridos na lógica esportiva em todas as dimensões. A crítica perpassa por perceber que através da ideologia da melhoria do sistema de transporte, que não é top 10, que nessa configuração constitui-se no isolamento simbólico do cidadão, numa construção a qualquer preço, para que possibilite tudo, de tal maneira que, os que chegam de fora do País, não se assuste, não percebam. Mas gaste!

Nas minhas considerações finais, não posso deixar de registrar que as mídias contribuem para essa ideologia do isolamento simbólico, quando não registram que, ao término dos jogos na Barra da Tijuca, quase uma hora da manhã, o mesmo transporte que deixa 70% da população na Zona Sul e adjacência nas portas de suas casas, despeja no Centro do Rio, Zona Norte ou Baixada Fluminense os outros 30% que ficam jogados a própria sorte, pois, onde estão a essa hora da madrugada, o VLT, as barcas e os BRT’s? Welcome reality ou bem vindo à realidade!


Não percebemos, nesse caso o significado de dignidade da pessoa humana, que implica respeito aos direitos humanos, repúdio à discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo nas relações interpessoais, públicas e privadas. Esses temas transversais fazem com que a nossa participação como princípio democrático, traga a noção de cidadania ativa, isto é, da complementaridade entre a representação política tradicional e a participação popular no espaço público, compreendendo que não se trata de uma sociedade homogênea e sim marcada por diferenças de classe, étnicas, religiosas etc.


Nessa perspectiva,  a corresponsabilidade pela vida social implica partilhar com os poderes públicos e diferentes grupos sociais, ou não, a responsabilidade pelos destinos da vida coletiva. É nesse sentido, a responsabilidade de todos a construção e a ampliação da democracia no Brasil.


Logo, o que não é concebível nesses dias de jogos olímpicos, é fingir que esse Estado se construa da Carioca a Barra da Tijuca dentro dos trens e ônibus, visto que, as desigualdades sociais existem, e são bem marcantes, assim, a nossa luta perpassa pela desconstrução, para que não se consolide ou perpetue, uma frase do senso comum, que afirma, que os direitos são iguais para todos.

Portanto, uma vez que, igualdade de direitos refere-se à necessidade de garantir a todos a mesma dignidade e de exercício de cidadania. Para tanto há que se considerar o princípio da equidade, isto é, que existem diferenças (étnicas, culturais, regionais, de gênero etc), e desigualdades (socioeconômicas) que necessitam ser levadas em conta para que a igualdade seja efetivamente alcançadas. Então o que estamos vivenciando permeia o oposto da compreensão do que de fato representa tal igualdade, e para tanto, deixo uma reflexão, após essa longa viagem. Direitos iguais para quem?



Jacy Marques Passos